Reforma Tributária: Um Novo Capítulo para o Brasil e para a Justiça Fiscal


Por Esdras Dantas de Souza, Diretor de Ensino e Pesquisa Tributária da RENAT
Depois de décadas de espera, o Brasil enfim começa a escrever um novo capítulo em sua história tributária. A tão debatida e aguardada reforma tributária teve sua primeira fase aprovada e já transformada em lei. Uma mudança profunda, estrutural e ousada no sistema de arrecadação do país, com o potencial de remodelar as engrenagens da economia brasileira.
Mas o que é, afinal, essa reforma? Em essência, trata-se de uma reconfiguração completa da forma como os tributos são cobrados no Brasil. O objetivo? Simplificar, tornar mais justo, estimular o crescimento e, principalmente, aliviar o peso que há anos recai desproporcionalmente sobre quem mais precisa: o povo brasileiro.
A Primeira Fase: O IVA e a Simplificação
A primeira parte da reforma já virou realidade. Seu grande marco é a criação de um sistema de tributação única sobre o consumo, por meio do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) — um modelo amplamente utilizado nas economias mais desenvolvidas do mundo. No Brasil, esse IVA será dual, dividido entre União e entes subnacionais.
Com isso, deixam de existir cinco tributos que há muito geravam confusão, sobreposição de competências e alto custo de conformidade para as empresas:
- Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)
- Programa de Integração Social (PIS)
- Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins)
- Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)
- Imposto sobre Serviços (ISS)
Em seu lugar, surgem:
- Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), de competência da União
- Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), compartilhado entre Estados e Municípios
- Imposto Seletivo (IS), com foco em bens e serviços prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente
Essa transição não é apenas contábil — ela é simbólica. Representa um Brasil que olha para frente, que deseja menos burocracia e mais desenvolvimento, e que entende que complexidade tributária não é sinônimo de eficiência, mas de entrave.
Os Objetivos da Reforma: Mais do que Números, Justiça
A reforma tem metas ambiciosas e absolutamente necessárias. Busca:
- Reduzir o custo operacional das empresas, especialmente das pequenas e médias, que hoje enfrentam um verdadeiro labirinto fiscal.
- Estimular o crescimento econômico, dando segurança jurídica e previsibilidade aos investidores.
- Promover justiça tributária, ao tratar de forma mais igualitária diferentes setores econômicos e aliviar o consumo das famílias mais pobres, que hoje carregam parte desproporcional da carga tributária.
- Combater a sonegação e as fraudes fiscais, que drenam bilhões dos cofres públicos todos os anos, minando recursos que poderiam ser investidos em saúde, educação e infraestrutura.
A Segunda Fase: O Que Vem Pela Frente
A segunda etapa da reforma, ainda em construção, promete tratar da tributação sobre renda e patrimônio. É nela que veremos discussões sobre Imposto de Renda, lucros e dividendos, heranças, e como o país poderá, enfim, tornar seu sistema fiscal mais progressivo — onde quem tem mais, contribui mais.
Conclusão: O Começo de Um Brasil Mais Justo
Não é exagero dizer que essa reforma pode mudar os rumos do país. Ela não resolve tudo, é verdade — nenhuma lei o faz. Mas ela abre portas. E para quem, como eu, já trilha há mais de quatro décadas os caminhos da advocacia, é emocionante ver o Brasil dando esse passo.
Estamos, sim, diante de um momento histórico. Que ele seja aproveitado com responsabilidade, visão de futuro e compromisso com a justiça social. Afinal, um sistema tributário justo não é favor, é dever de um Estado que respeita seu povo.
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