Planejamento Tributário Internacional: Limites entre a Elusão e a Evasão Fiscal


Por Cairo David — Advogado Tributarista, membro da Associação Brasileira de Advogados e da Rede Nacional de Advogados Tributaristas (RENAT)
Quando o assunto é planejamento tributário internacional, muita gente ainda confunde inteligência fiscal com práticas ilegais. E não é à toa: a linha que separa a elusão da evasão fiscal pode ser tão tênue quanto aquela última fatia de pizza que ninguém quer pegar, mas todo mundo está de olho.
Vamos por partes. Planejar tributos é legal, legítimo e recomendado. Empresas e pessoas físicas que possuem operações no exterior devem, sim, buscar eficiência fiscal, utilizando as ferramentas que a legislação oferece. No entanto — spoiler — nem tudo que "dá pra fazer" no papel sobrevive ao crivo da fiscalização, especialmente no cenário atual, em que as autoridades tributárias nacionais e internacionais trocam informações constantemente.
Elusão Fiscal: o jogo permitido (com regras claras)
A elusão fiscal é um planejamento tributário que, embora busque reduzir ou postergar o pagamento de impostos, está dentro da lei, ainda que, por vezes, beire a criatividade. O contribuinte estrutura suas operações de forma eficiente, aproveitando brechas legais, mas sem fraudar. Um exemplo clássico é a escolha entre diferentes regimes de tributação ou a criação de uma holding para organizar o patrimônio.
Entretanto, é importante destacar que muitos planejamentos agressivos já são vistos com desconfiança. O que antes era chamado de "elisão" tributária, hoje se enquadra na chamada "elusão", e já está no radar do Fisco. Em resumo: se parecer maquiagem fiscal, alguém vai desconfiar.
Evasão Fiscal: o lado obscuro da força
A evasão fiscal não tem mistério: é crime, e ponto final. Trata-se da omissão de receitas, falsificação de documentos, uso de empresas fantasmas ou realização de operações fictícias para ocultar recursos e não pagar impostos. Aqui, não há argumento técnico que justifique tais práticas — e o risco jurídico e reputacional é gigantesco.
Onde está a linha tênue?
A linha está na substância econômica. Se o planejamento tributário tem uma função real, um propósito negocial legítimo e documentação consistente, está mais seguro. Se é apenas um malabarismo fiscal sem fundamento prático, pronto para desmoronar ao primeiro questionamento, há um grande risco envolvido.
O cenário internacional: olhos atentos por todos os lados
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o projeto BEPS (Base Erosion and Profit Shifting) surgiram justamente para combater manobras artificiais e a corrida global por jurisdições de baixa tributação. A troca automática de informações (CRS), acordos bilaterais e a fiscalização digital reduziram drasticamente a sensação de impunidade.
Além disso, o Brasil tem avançado na adaptação de suas regras de preços de transferência, regimes de CFC (empresas controladas no exterior) e no combate a paraísos fiscais. Quem não estiver atento corre o risco de ser surpreendido por autuações e penalidades severas.
Em outras palavras…
O planejamento tributário internacional não é um vilão. Pelo contrário, é uma necessidade legítima, desde que seja realizado com seriedade, transparência e, principalmente, substância econômica. O advogado tributarista deixou de ser um "mago das estruturas mirabolantes" para se tornar um consultor estratégico, ajudando a proteger negócios e reputações no longo prazo.
Como sempre digo: não existe mágica, existe método.
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